quarta-feira, 3 de maio de 2017

CRÔNICA DO AQUÁRIO: A Morte de um Valente

Ele chegou cedo para trabalhar. E quem chega primeiro precisa apagar as luzes que ficaram acesas durante a noite. De repente ele encontra um bem-te-vi estirado no chão com as patas para cima e os dedos torcidos para dentro. Por um instante observa o pássaro aparentemente morto. Em ato contínuo ergue a cabeça ate encontrar as copas das árvores ao redor; ouve o trinado dos pássaros, mas não encontra algum lamentando a morte do bem-te-vi que encontrei estatelado; não detecta insetos tentando se aproveitar da carniça fresca. Isso denota morte recente. Pelo menos foi o que pensou.

O homem vai embora, pois precisa apagar o restante das luzes. Dali alguns minutos volta e assume as suas tarefas. Mas os pensamentos continuam matutando sobre a sorte daquela ave: morreu de que? Será que o pássaro se confundiu com os vidros da guarita e bateu na janela? Foi atacada por algum outro pássaro? O que se sabe sobre os bem-te-vis é que eles zoam os gaviões dando-lhes bicadas na cabeça durante o voo para desviar dos ninhos! A curiosidade o consome. Então ele se levanta para dar mais uma olhada no pássaro morto que permanece estático.

Gora, as pernas e os dedos do bichinho estão totalmente esticados. Será que ele ainda estava vivo e acabou de morrer ferido debaixo do sol que estava de lascar, ou foi reflexo post-mortem?

Ele também notou que próximo ao pássaro morto havia uma armadilha para ratos, ratos do campo. Será que a curiosidade ao invés de matar o gato matou o bem-te-vi? Não sei. Desiste de especular.

Mais tarde ele volta e encontra o pássaro no mesmo estado. E pensa consigo mesmo: É o fim realmente! Deve estar trinando com seus amigos que também já partiram.

A cena permeou os pensamentos do homem durante o resto do dia. O que teria contribuído para a morte daquele pássaro tão valente? Será que seus pais souberam que ele estava nessa situação? Será que tentaram defende-lo enquanto havia vida? Não se sabe.