Muito se discute hoje sobre o comportamento
equivocado dos nossos jovens, tanto em casa não valorizando seus pais como em
sala de aula sendo agressivos e desrespeitosos com os colegas e principalmente
com os docentes. São inúmeras queixas e diversos casos relatados que, ao final
das discussões, paira uma pergunta no ar: “O que aconteceu com a moral e a
ética?”
O termo “Transmissão Vertical”, muito utilizado na saúde, significa que a
criança recebeu alguma infecção de sua mãe (Hepatite B e C, HIV, Sífilis,
etc.). Quando resolvi utilizar esse termo para a educação, pensei que seria
mais fácil a assimilação do leitor quando se trata da moral e da ética.
A palavra Ética é originada do grego ethos e significa modo de ser, caráter.
Através do latim mos (ou no plural mores),
que significa costumes, derivou-se a palavra moral. Em Filosofia, Ética significa
o
que é bom para o indivíduo e para a sociedade, e seu estudo
contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo -
sociedade.
Define-se Moral como um conjunto de normas, princípios, preceitos,
costumes, valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo
social. Moral e ética não devem ser confundidos: enquanto a moral é normativa,
a ética é teórica e busca explicar e justificar os costumes de uma
determinada sociedade, bem como fornecer subsídios para a solução de seus
dilemas mais comuns.
Desde criança que ouvimos a frase: “Educação vem de berço”. Nunca discordei
dela e cada dia que passa concordo mais ainda. É justamente nesse ponto que
quero chegar. A maioria dos professores das nossas crianças são pais e se não o
forem, são filhos. Quando observo as atitudes desenfreadas dessas crianças
frente aos seus pais ou professores, questiono se a educação que eles estão
recebendo, tanto em casa como na escola, está coerente com a moral que tanto
ouvimos falar antigamente e a ética que massivamente ouvimos hoje.
A transmissão vertical da moral e da ética influencia diretamente na formação
das nossas crianças. A quantidade de crianças com dificuldade de aprendizagem
nas salas de aula de todo o país é assustadora. Será que a multiplicação dos
cursos de Psicopedagogia se deve justamente ao simples fato dos pais e mestres
não terem o que transmitir? Ou ainda de transmitir valores amorais e nada
éticos?
Temos que entender que os professores trabalham na sociedade e que devem
trabalhar, necessariamente, em prol dela. São eles, juntamente com os pais, que
transmitem os valores que separam o que é certo do errado. Existe uma fronteira
que separa a vida pessoal do profissional? É difícil utilizar essa fronteira
como descrição do que significa transitar entre a própria vida e a vida
profissional, uma vez que as reflexões que são feitas relativamente à profissão
formam parte daquilo que eles são como professores, como pais, como cidadãos e
como membros de uma sociedade.
Os professores veem hoje o seu trabalho dificultado, mas essa dificuldade
deveria engrandecê-los na medida em que devem educar para a cidadania sem
deixar de ser cidadãos. Quando eles retornam à sala de aula como alunos, como
em cursos de pós-graduação, o comportamento expressado reflete diretamente o
que estão transmitindo aos seus alunos: desmotivação com a profissão,
intolerância, arrogância e principalmente falta de comprometimento com a
educação.
São queixosos em relação à lista de presença, ao artigo científico como
avaliação da disciplina e ao cumprimento da carga horária, itens que, ao meu
ver são essenciais a uma boa formação. Deixam claro que estão ali pelo
certificado, pois aumentará seu salário. Se analisarmos que são esses
profissionais que, através das suas atitudes, transmitem os valores éticos e
morais às nossas crianças, temos que nos preocupar imensamente com o rumo que
tomou a educação no nosso país.
Nessa perspectiva, considero que existe uma espécie de divergência entre aquilo
que são e aquilo que fazem como professores. Por isso é tão necessário insistir
na imagem do professor não só como um profissional que transmite conhecimentos,
que resolve competentemente o seu trabalho, mas também como alguém que educa
através das suas atitudes. É aí que devem focalizar as expressões máximas dos
valores e da ética.
Sérgio Bandeira Góes é diretor geral da Organização
Pós-Graduação em Educação e Cultura. Contato: sergio@posgrad.com.br