Este blog publica informações genéricas sobre o mundo das bibliotecas. Você é nosso convidado(a).
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Os fantásticos livros voadores do Sr. Morris Lessmore
O poder curativo dos livros numa carta de amor aos livros. Afinal é nos livros que podemos encontrar a fonte da juventude! Uma história sobre pessoas que dedicam as suas vidas aos livros e de livros que devolvem esse favor. Com o título original "The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore" foi o Vencedor do Óscar 2012 para filme de animação, curta metragem!
Inspirado pelo furacão Katrina, Buster Keaton, O Mágico de Oz, e um amor pelos livros, "Morris Lessmore" é uma pungente e humorística alegoria sobre os poderes curativos das histórias.
Usando uma variedade de técnicas (miniaturas, animação por computador, animação 2D) o premiado autor / ilustrador William Joyce e o co-diretor Brandon Oldenburg apresentam uma nova experiência narrativa que remonta a filmes mudos e musicais da MGM Technicolor. "Morris Lessmore" é antiquado e inovador ao mesmo tempo.
Sítio: http://www.morrislessmore.com
Filme: "The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore," (2011)
Ilustrador: William Joyce
Realização: William Joyce e Brandon Oldenburg,
Estúdios: Moonbot Studios LA, LLC
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Diminuem leitores no Brasil e metade não lê
A terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a ser apresentada hoje na Câmara, revelou que a população leitora diminuiu no País. Enquanto em 2007 55% dos brasileiros se diziam leitores, hoje esse porcentual caiu para 50%.
São considerados leitores aqueles que leram pelo menos um livro nos três meses anteriores à pesquisa. Diminuiu também, de 4,7 para 4, o número de livros lidos por ano. Entraram nessa estatística os livros iniciados, mas não acabados. Na conta final, o brasileiro leu 2,1 livros inteiros e desistiu da leitura de 2.
A pesquisa foi feita pelo Ibope Inteligência por encomenda do Instituto Pró-Livro (IPL), entidade criada em 2006 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sindicato Nacional de Editores e Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares. "É no mínimo triste a gente não poder comemorar um crescimento", disse Karine Pansa, que acumula a direção do IPL e da CBL. Ontem, o Estado mostrou que 75% dos brasileiros nunca pisaram em uma biblioteca.
Participaram da apresentação representantes de entidades livreiras e do poder público, entre eles a ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Ela destacou a importância do estudo para o direcionamento das políticas públicas do Minc e do Ministério da Educação. "Temos de ter um olhar da cultura que vai além do ensino e que abra os olhos para outras dimensões. O livro é que vai permitir a formação da cidadania", disse a ministra.
O levantamento foi realizado entre junho e julho de 2011, com 5.012 pessoas de 315 municípios, com 5 anos ou mais, em suas próprias casas. Todas as regiões do País foram incluídas e a margem de erro é de 1,4%.
Questões diversas. Para compor o mapa da leitura, questões diversas foram analisadas. Os principais motivos que mantêm leitores longe de livros são falta de tempo (53%) e desinteresse (30%). O livro digital, novidade deste ano, já é de conhecimento de 30% dos brasileiros e 18% deles já os usaram. A metade disse que voltaria a ler nesse formato.
A mãe não é mais a maior incentivadora da leitura, como aparecia na pesquisa passada. Para 45% dos entrevistados, o lugar é ocupado agora pelo professor. A biblioteca é o lugar escolhido para a leitura de um livro por apenas 12% dos brasileiros - 93% dos que leem o fazem em casa. Ter mais opções de livros novos foi apontado por 20% dos entrevistados como motivo para frequentar uma biblioteca. Porém, para 33% dos brasileiros, nada os convenceria a entrar em uma.
Entre o passatempo preferido, ler livros, periódicos e textos na internet ocupa a sexta posição (28%). Na pesquisa anterior, o índice era de 36%. Assistir à televisão segue na primeira posição (85%) - em 2007, era a distração de 77% dos entrevistados.
Dos 197 escritores citados, os mais lembrados foram Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho, Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade. Já os títulos mais mencionados foram a Bíblia, A Cabana, Ágape, O Sítio do Picapau Amarelo - que não é exatamente título de nenhum livro de Lobato - e O Pequeno Príncipe. Best-sellers comoCrepúsculo, Harry Potter e O Monge e o Executivo também aparecem.
Maria Fernanda Rodrigues
Cai nº de leitores no País e metade não lê - vida - educacao - Estadão
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,cai-n-de-leitores-no-pais-e-metade-nao-le,854673,0.htm
terça-feira, 19 de junho de 2012
Livros raros estavam em sacos de lixo na rua
Obras haviam sido roubadas do Instituto de Botânica
em fevereiro
Os 22 livros raros roubados do Instituto de
Botânica, na zona sul de São Paulo, em 2 de fevereiro, foram recuperados
exatamente dois meses depois, na segunda-feira à noite. A polícia prendeu um
integrante da quadrilha e encontrou os exemplares jogados em sete sacos de lixo
na Rua Ramon Penharrubia, no Paraíso, também na zona sul.
Alguns exemplares roubados chegam a valer US$ 60
mil
A polícia monitorava o autônomo Carlos Xavier de
Araújo Lima, de 38 anos, integrante da quadrilha acusada do roubo, e conseguiu
prendê-lo quando deixava uma academia no Bom Retiro, no centro. Lima tem
passagem por roubo, estava foragido da Justiça desde abril de 2010 e, segundo a
polícia, participaria de uma negociação envolvendo os livros que ocorreria na
rua onde foram deixados. "Ele foi detido e, portanto, não apareceu para
fazer o contato, o que deve ter chamado a atenção dos demais. Mandamos viaturas
descaracterizadas até o lugar onde os livros seriam mostrados. Os bandidos
provavelmente notaram a movimentação, descartaram o material e fugiram",
disse o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic),
Nelson Silveira Guimarães.
O diretor do Deic diz que Lima faz parte do grupo
responsável por executar o roubo, mas não por planejá-lo.
Duas viaturas seriam deslocadas ontem para levar
até o instituto os 11 volumes de Flora Fluminensis, cinco de Sertum
Palmarum Brasileinsium, dois de Le Bambusées e exemplares
de Graminearum Genera, Herbarium Amboinense, Plantarum
Brasiliae eFlora Brasilica. Aparentemente, as obras estão
intactas.
Alívio
Funcionários do Instituto de Botânica demonstraram
alívio com a recuperação dos livros. "Nosso medo era que colocassem fogo
para se livrar da prova do crime", afirmou a bibliotecária Maria Helena
Gallo.
A diretora do instituto, Vera Bononi, disse que
livreiros do exterior estimaram em US$ 60 mil alguns exemplares roubados.
"As figuras é que poderiam interessar. Os textos estão na internet."
Fonte: William Cardoso - Estadão
domingo, 17 de junho de 2012
Lei da Aprendizagem
A Lei n. 10.097/2000, regulamentada pelo decreto n. 5.598/2005, estabelece que todas empresas de médio e grande porte estão obrigadas a contratarem adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos. Trata-se de um contrato especial de trabalho por tempo determinado, de no máximo dois anos. De acordo com a legislação, a cota de aprendizes está fixada entre 5%, no mínimo, e 15%, no máximo, por estabelecimento, calculada sobre o total de empregados cujas funções demandem formação profissional.
Os jovens beneficiários são contratados por empresas como aprendizes de ofício, ao mesmo tempo em que são matriculados em cursos de aprendizagem, em instituições qualificadoras reconhecidas, responsáveis pela certificação. A carga horária estabelecida no contrato deverá somar o tempo necessário à vivência das práticas do trabalho na empresa e ao aprendizado de conteúdos teóricos ministrados na instituição de aprendizagem.
Fonte: abrhsp.org.br
Os jovens beneficiários são contratados por empresas como aprendizes de ofício, ao mesmo tempo em que são matriculados em cursos de aprendizagem, em instituições qualificadoras reconhecidas, responsáveis pela certificação. A carga horária estabelecida no contrato deverá somar o tempo necessário à vivência das práticas do trabalho na empresa e ao aprendizado de conteúdos teóricos ministrados na instituição de aprendizagem.
Fonte: abrhsp.org.br
Borrachalioteca
A Borrachalioteca, em Sabará, MG: contação de histórias e acervode 7 mil livros, dos quais 800 são reservados aos leitores-mirins. Foto: Leo Drumond/Ag. Nitro |
Quem disse que borracharia não é lugar para crianças? Em Sabará, a 25 quilômetros de Belo Horizonte, um desses estabelecimentos vive cheio de meninos e meninas. E eles não vão até lá para encher o pneu da bicicleta. Freqüentam o lugar em busca de livros. Isso mesmo: livros! É a Borrachalioteca, projeto vencedor do prêmio Viva Leitura 2007 na categoria de bibliotecas públicas, privadas e comunitárias.
A idéia de transformar uma borracharia em espaço literário foi do estudante de Letras Marcos Túlio Damascena. O rapaz gosta de ler desde pequeno. Em 2002, muito antes de entrar na faculdade, percebeu que o negócio da família tinha potencial para ser usado como instrumento de incentivo à leitura. Afinal, havia espaço para acomodar alguns livros. Tudo começou com aproximadamente 70 títulos, conseguidos na base da doação. Em pouco tempo, crianças, jovens e adultos já visitavam o local não para consertar pneus, mas para pedir livros emprestados. Hoje, o acervo chega a 7 mil exemplares. Seu ponto forte é literatura brasileira. O inventor da Borrachalioteca conta, com orgulho, que a obra completa de Fernando Sabino - um de seus escritores prediletos - ocupa lugar de destaque nas prateleiras.
Além de emprestar livros, o espaço ganhou um anexo bem próximo, fruto de uma parceria com a prefeitura de Sabará. E a iniciativa de Damascena acabou se transformando em uma ONG, o Instituto Cultural Aníbal Machado (uma homenagem a outro dos autores preferidos do rapaz). A maioria das 200 retiradas mensais da biblioteca é feita por crianças, como Richard Marques, 8 anos, que vai ao local quase diariamente. "Gosto mais de ler do que de ficar na escola", diz o garoto, estudante de 3º ano.
Ao longo do ano, Damascena organiza eventos na praça em frente à Borrachalioteca, envolvendo sempre o incentivo à leitura. Num palco feito com pneus de caminhão, já aconteceu de tudo - de encontro de contadores de histórias a peças encenadas por estudantes de escolas próximas. Os freqüentadores são de todas as idades, mas o público infantil conta com um acervo especial de 800 livros, além de mediação de leitura uma vez por semana. "O que fazemos é facilitar o acesso ao livro", diz o coordenador do projeto.
Ao longo do ano, Damascena organiza eventos na praça em frente à Borrachalioteca, envolvendo sempre o incentivo à leitura. Num palco feito com pneus de caminhão, já aconteceu de tudo - de encontro de contadores de histórias a peças encenadas por estudantes de escolas próximas. Os freqüentadores são de todas as idades, mas o público infantil conta com um acervo especial de 800 livros, além de mediação de leitura uma vez por semana. "O que fazemos é facilitar o acesso ao livro", diz o coordenador do projeto.
E o que os pequenos mais gostam de ler? Eles começam pelos livros com muitas figuras e, aos poucos, passam para leituras mais difíceis. "As poesias têm um poder danado em nossa biblioteca, e a leitura delas nas mediações faz diferença", afirma Damascena. Para ele, todo professor deveria incentivar os alunos fazendo mediação. "Só assim eles terão prazer na leitura e deixarão de ler por obrigação."
Na Borrachalioteca, quem faz mediação de leitura é a esposa de Damascena, Aguida Alves, às vezes acompanhada do filho Sartre, que já pegou gosto pelos livros, mesmo com apenas 5 anos. Agora, o casal de voluntários se prepara para abrir outra biblioteca, no bairro de Cabral. "Nossa pretensão é levar cultura e diversão aos moradores por meio do incentivo à leitura." Uma sede nova para a Borrachalioteca também está nos planos, mas próxima à localização atual, onde tudo começou. "Eu gostava de ler quando era criança, mas não tinha acesso a tantos livros, pois venho de uma família financeiramente modesta", diz o rapaz. "Garantir esse acesso é minha principal motivação."
Na Borrachalioteca, quem faz mediação de leitura é a esposa de Damascena, Aguida Alves, às vezes acompanhada do filho Sartre, que já pegou gosto pelos livros, mesmo com apenas 5 anos. Agora, o casal de voluntários se prepara para abrir outra biblioteca, no bairro de Cabral. "Nossa pretensão é levar cultura e diversão aos moradores por meio do incentivo à leitura." Uma sede nova para a Borrachalioteca também está nos planos, mas próxima à localização atual, onde tudo começou. "Eu gostava de ler quando era criança, mas não tinha acesso a tantos livros, pois venho de uma família financeiramente modesta", diz o rapaz. "Garantir esse acesso é minha principal motivação."
Fonte: Revista Nova Escola - 17/06/2012 - 15h44
A biblioteca de Leonardo, o Léo do peixe
livrosepeixesleo.jpg |
No sertão de Minas, onde, em vez de jagunços lutando e matando por honra, amor e amizade, há traficantes e adolescentes destruídos pelo crack, um pescador, tentando sobreviver às conseqüências da poluição de um dos maiores e mais emblemáticos rios do país, montou uma biblioteca ambulante na feira de uma cidade sem livrarias. Em 11 meses, Léo do Peixe reuniu 8.000 volumes e cadastrou 348 leitores no seu Clube da Leitura, numa feira livre, em Pirapora, às margens do rio São Francisco.
Cinqüenta anos depois da publicação de "Grande Sertão: Veredas", a obra-prima de Guimarães Rosa, o projeto heróico e obstinado do pescador revela, pela exceção, a realidade de um sertão que já não permite nenhum idealismo.
Livros concorrem com revistas e gibis
Halexya Rodrigues Bavosa Pedais, 7, defende com altivez de rainha o título de primeira leitora da biblioteca ambulante que o pescador Leonardo da Piedade Diniz Filho, mais conhecido como Léo do Peixe, mantém desde fevereiro na feira livre de domingo, em Pirapora, no sertão mineiro, às margens do rio São Francisco.
"Com "h" e "y'", corrige Halexya, de botinha de plástico e minissaia. "Comecei lendo revistinha. Depois, passei para literatura mesmo: "A Odisséia" e "Pluft, o Fantasminha'", diz. Em março, a professoraDenise de Souza , há 20 anos ensinando na rede pública da cidade de 55 mil habitantes, cuja primeira livraria foi inaugurada há três meses, viu a faixa do Clube da Leitura ao lado da barraca de peixe, na feira. Doou alguns livros.
Um mês depois, procurou Léo do Peixe e o encorajou a se inscrever no prêmio Viva Leitura, promovido no Brasil pela Fundação Santillana, maior grupo editorial espanhol, ao qual pertencem as editoras Objetiva e Moderna. Dos 3.000 projetos inscritos, a barraca do Clube da Leitura ficou entre os cinco finalistas na categoria pessoa física (o vencedor foi um projeto de leitura para presidiárias em Porto Alegre).
Casado, pai de um menino de sete anos e de uma menina de quatro, pescador há 17 anos e profissional há cinco, Léo do Peixe, 40, inaugurou o Clube da Leitura com cem livros, motivado, em parte, pela perspectiva de ficar perto dos filhos, que poderiam se entreter enquanto o pai estivesse vendendo peixes na feira, aos domingos, depois de passar a semana pescando, fora de casa. Foi para o rádio pedir doações.
Sem hierarquias Hoje, com 348 leitores cadastrados -e um público de até80 a cada domingo-, avalia ter cerca de 8.000 volumes, entre livros, revistas, enciclopédias, dicionários, fascículos, panfletos religiosos e apostilas, todos recebidos por doação e mantidos sem hierarquias catalográficas: "A Montanha Mágica" ao lado de "Alegria de Viver para Tornar sua Vida Mais Saudável com Muito Charme".
Cada um escolhe o que quiser. Um menino de 11 anos, Marcílio Pardinho, pode sair da feira satisfeito, com "O Jardim dos Finzi-Contini", de Giorgio Bassani, debaixo do braço ("Meu primo já tinha lido. Disse que era interessante. Eu só estava esperando o livro voltar"), mas a maioria prefere ler revistas velhas e gibis. "Minha mulher adora Paulo Coelho", diz Léo do Peixe.
Há uma semana, Gildete Araújo dos Santos retirou sete livros, entre eles: "Enigma de um Amor", "Revelando o Amor", "Atração Irresistível" e "Disfarce Irresistível". "O que a mulherada mais gosta é "Sabrina" e "Júlia'", diz o pescador, fazendo alusão às séries de romances de banca de jornais. "Vou para a roça. Na roça não tem televisão", justifica Gildete, ecoando a máxima de Guimarães Rosa: "No sertão, o que pode fazer uma pessoa do seu tempo livre a não ser contar histórias?" Ou ler.
Embora estejam em pleno sertão, ou talvez por isso mesmo, poucos lêem o autor de "Grande Sertão: Veredas", romance publicado há 50 anos. "Tenho dificuldade. Acho que tem sempre alguma coisa muito grande por trás. E eu fico querendo saber o que é", diz Léo do Peixe, ao mesmo tempo em que se entusiasma com o livro de estréia de Lúcio Cardoso, "Maleita", de 1934, que ele acabou de ler e cuja história se passa em Pirapora: "Há cem anos, os caras pescavam pelados nessa cachoeira. Isso aqui era uma promiscuidade danada". Hoje, no final da tarde de domingo, os crentes vão e vêm de bicicleta, com a Bíblia na mão, pela antiga ponte de madeira e ferro, desativada há anos, que liga Pirapora a Buritizeiro sobre as corredeiras caudalosas do São Francisco.
O sertão e o rio
O sertão já não é o mesmo. Na estrada que vai de Belo Horizonte a Pirapora, entre Cordisburgo e Curvelo, homens, mulheres e crianças com pás nas mãos gritam por uma "moedinha" pelo serviço de encher de terra as crateras no asfalto, das quais os motoristas de caminhões abarrotados de sacos de carvão tentam desviar como podem.
O São Francisco também já não é o mesmo. No ano passado, a Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente) detectou a presença de metais pesados no leito do rio como causa da mortandade de peixes entre Três Marias e Pirapora (leia texto na página ao lado).
As veredas (olhos-d'água ou nascentes) também correm o risco de sumir, graças ao assoreamento.
O Clube da Leitura não tem patrocínio nem incentivo além da eventual colaboração de amigos e simpatizantes. Sobrevive da obstinação do seu idealizador. Recentemente, um vereador cedeu um trailer para abrigar a biblioteca na feira. Embora reconhecido e saudado por onde passa, Léo do Peixe garante que não tem pretensões políticas: "Já me ofereceram legenda três vezes. Tenho medo de ficar sem-vergonha". Sua paixão são os livros e os peixes. "Você acha que são só as Sheilas?", pergunta, agarrado a um surubim de21 kg , sem cabeça (o maior que já pescou pesava 66 kg , com mais de 1,80 m ).
O peixe de couro, aspecto pré-histórico e carne suculenta, vive no fundo dos rios e é um dos ícones da cidade. A antiga zona de meretrício, um casario velho e abandonado diante do São Francisco, era conhecida como Cabeça de Surubim: "Na minha infância, vinha prostituta do Brasil inteiro", diz o pescador.
Meses difíceis
Durante a piracema (desova dos peixes, entre novembro e fevereiro), a pesca é proibida. Muitos pescadores passam dificuldades, apesar do salário-defeso (equivalente a um salário mínimo) garantido por quatro meses por ano pelo Estado, e continuam a pescar, contra a lei, com suas tarrafas. São meses difíceis para Léo do Peixe. "Hoje, tem mais pescador do que peixe", diz. Obrigado a limitar as vendas ao estoque de congelados, ele tenta aproveitar a piracema para se dedicar aos livros.
Os leitores agradecidos parecem confirmar o lema do militante da leitura: "Não existe cultura inútil". Entre os 45 cadastrados na feira do último domingo, Jaquelane Reis Aguiar, 22, voltou para devolver a "Pedagogia do Oprimido", de Paulo Freire, e levar um novo livro. Escolheu "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen: "Não conheço essa escritora, mas é um tema atual, né? Quem sabe não pode servir para alguma coisa?".
Metais no rio provocam morte de peixes
Entre outubro de 2004 e setembro de 2005, cerca de 25 toneladas de peixes morreram no alto São Francisco, entre Três Marias e Pirapora, segundo a Fepesca (Federação dos Pescadores Profissionais de Mi- nas Gerais).
"Surubim é um peixe ignorante. Sempre desceu peixe morto. Por isso, não levamos logoem conta. O surubim não sabe saltar, então ele sai de dentro d'água e, com a velocidade que vem, bate com a cabeça na pedra e morre na hora", diz Léo do Peixe, explicando a demora para perceber que havia um problema no rio, causando a morte dos peixes, além da "burrice" deles.
A Feam, vinculada à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, detectou a presença de metais pesados (zinco, em especial) no leito do rio e nas vísceras dos peixes mortos, sobretudo os de águas profundas, como o surubim.
No relatório que a fundação elaborou em2005, a Votorantim Metais Zinco S.A., que fica na altura da barragem de Três Marias (cerca de 100 km de Pirapora, rio acima), aparece como uma das principais responsáveis pelo desastre ecológico. A empresa foi autuada duas vezes em 2005, pela Feam e pelo Instituto Estadual de Florestas, e está sendo processada por colônias de pescadores.
A Votorantim é a única empresa a trabalhar com zinco na região, com uma capacidade de produção anual de 180 mil toneladas. O relatório da Feam indica medidas a ser adotadas pela companhia (como "a remoção de todo o passivo ambiental de sua responsabilidade, para fins de restauração efetiva do equilíbrio do ecossistema") e recomenda o embargo da unidade de Três Marias caso isso não seja cumprido.
A Votorantim contesta o relatório. "Entramos com um pedido de revisão. Temos informações de outras instituições que ainda não chegaram a nenhuma conclusão. Nossas operações estão dentro dos padrões exigidos pela legislação", diz Ricardo Barbosa, gerente de meio ambiente da empresa. "Não atribuímos a mortandade dos peixes ao zinco." Então, qual seria a causa? "É o que precisamos descobrir", diz, citando a presença de esgotos e agrotóxicos.
A Votorantim Metais acaba de obter a renovação de sua licença, sob a condição de executar 25 ações de reparação ambiental. "A empresa está investindo na solução dos seus problemas. Os passivos estão sendo resolvidos", diz Barbosa, reconhecendo problemas "no passado".
Se "Grande Sertão: Veredas" fosse narrado hoje, é provável que Riobaldo e Diadorim não se encontrassem pela primeira vez no rio São Francisco, quando ainda eram crianças, mas num centro correcional de menores, vigiados 24 horas por dia. "Pirapora era até muito recentemente o sexto município mais violento do Estado de Minas", diz Dalva AntoniaMaria de Castro Galdino, advogada, comerciante, idealizadora e diretora do recém-inaugurado Centro Socioeducativo de Adolescentes de Pirapora, o Cesap, onde Léo do Peixe organiza uma oficina mensal de leitura.
Com 58 funcionários e capacidade para 20 internos (hoje, são dez, entre 15 e 16 anos, acomodados em celas de quatro cada uma), o Cesap é um caixote murado de cimento e arame farpado, construído a poucos quilômetros da cidade, isolado na estrada para Montes Claros.
O projeto é resultado de uma parceria entre o Estado, o município e empresários locais, todos assustados com a taxa de criminalidade da região: "Todo mundo quer saber por que eles cometem o ato infracional", diz a diretora.
Entre os internos, há quem cometeu homicídio. Alguns passaram pela cadeia pública. A idéia do centro é tentar reinserir o menor na sociedade. Além do banho de sol diário de uma hora, os adolescentes freqüentam aulas de matemática, português e inglês, cursos profissionalizantes e oficinas.
Léo do Peixe leva os livros e revistas de bicicleta. A maioria dos meninos gosta de assuntos que lhes dizem respeito diretamente, como sexo e drogas. "A gente tem que selecionar as leituras", ressalva Dalva Galdino. "Tem um que adora poesia", diz o pescador.
As situações familiares são dramáticas. "Tem menino de 15 anos que já é pai, com filho de 8 meses que ele nunca viu. E tem pai que não consegue vir visitar o filho preso. No início, ainda permitíamos que levassem livros para as celas, até que um adolescente tentou passar uma coisa para outro, dentro da Bíblia. A gente percebeu e retirou os livros. Ele mandava o outro ler um determinado salmo. Era um recado", diz a diretora. "Outro dia, um menino gritou para mim no meio da rua. Era um deles, que tinha sido solto", diz Léo do Peixe, sem disfarçar a felicidade.
Livros concorrem com revistas e gibis
Halexya Rodrigues Bavosa Pedais, 7, defende com altivez de rainha o título de primeira leitora da biblioteca ambulante que o pescador Leonardo da Piedade Diniz Filho, mais conhecido como Léo do Peixe, mantém desde fevereiro na feira livre de domingo, em Pirapora, no sertão mineiro, às margens do rio São Francisco.
"Com "h" e "y'", corrige Halexya, de botinha de plástico e minissaia. "Comecei lendo revistinha. Depois, passei para literatura mesmo: "A Odisséia" e "Pluft, o Fantasminha'", diz. Em março, a professora
Um mês depois, procurou Léo do Peixe e o encorajou a se inscrever no prêmio Viva Leitura, promovido no Brasil pela Fundação Santillana, maior grupo editorial espanhol, ao qual pertencem as editoras Objetiva e Moderna. Dos 3.000 projetos inscritos, a barraca do Clube da Leitura ficou entre os cinco finalistas na categoria pessoa física (o vencedor foi um projeto de leitura para presidiárias em Porto Alegre).
Casado, pai de um menino de sete anos e de uma menina de quatro, pescador há 17 anos e profissional há cinco, Léo do Peixe, 40, inaugurou o Clube da Leitura com cem livros, motivado, em parte, pela perspectiva de ficar perto dos filhos, que poderiam se entreter enquanto o pai estivesse vendendo peixes na feira, aos domingos, depois de passar a semana pescando, fora de casa. Foi para o rádio pedir doações.
Sem hierarquias Hoje, com 348 leitores cadastrados -e um público de até
Cada um escolhe o que quiser. Um menino de 11 anos, Marcílio Pardinho, pode sair da feira satisfeito, com "O Jardim dos Finzi-Contini", de Giorgio Bassani, debaixo do braço ("Meu primo já tinha lido. Disse que era interessante. Eu só estava esperando o livro voltar"), mas a maioria prefere ler revistas velhas e gibis. "Minha mulher adora Paulo Coelho", diz Léo do Peixe.
Há uma semana, Gildete Araújo dos Santos retirou sete livros, entre eles: "Enigma de um Amor", "Revelando o Amor", "Atração Irresistível" e "Disfarce Irresistível". "O que a mulherada mais gosta é "Sabrina" e "Júlia'", diz o pescador, fazendo alusão às séries de romances de banca de jornais. "Vou para a roça. Na roça não tem televisão", justifica Gildete, ecoando a máxima de Guimarães Rosa: "No sertão, o que pode fazer uma pessoa do seu tempo livre a não ser contar histórias?" Ou ler.
Embora estejam em pleno sertão, ou talvez por isso mesmo, poucos lêem o autor de "Grande Sertão: Veredas", romance publicado há 50 anos. "Tenho dificuldade. Acho que tem sempre alguma coisa muito grande por trás. E eu fico querendo saber o que é", diz Léo do Peixe, ao mesmo tempo em que se entusiasma com o livro de estréia de Lúcio Cardoso, "Maleita", de 1934, que ele acabou de ler e cuja história se passa em Pirapora: "Há cem anos, os caras pescavam pelados nessa cachoeira. Isso aqui era uma promiscuidade danada". Hoje, no final da tarde de domingo, os crentes vão e vêm de bicicleta, com a Bíblia na mão, pela antiga ponte de madeira e ferro, desativada há anos, que liga Pirapora a Buritizeiro sobre as corredeiras caudalosas do São Francisco.
O sertão e o rio
O sertão já não é o mesmo. Na estrada que vai de Belo Horizonte a Pirapora, entre Cordisburgo e Curvelo, homens, mulheres e crianças com pás nas mãos gritam por uma "moedinha" pelo serviço de encher de terra as crateras no asfalto, das quais os motoristas de caminhões abarrotados de sacos de carvão tentam desviar como podem.
O São Francisco também já não é o mesmo. No ano passado, a Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente) detectou a presença de metais pesados no leito do rio como causa da mortandade de peixes entre Três Marias e Pirapora (leia texto na página ao lado).
As veredas (olhos-d'água ou nascentes) também correm o risco de sumir, graças ao assoreamento.
O Clube da Leitura não tem patrocínio nem incentivo além da eventual colaboração de amigos e simpatizantes. Sobrevive da obstinação do seu idealizador. Recentemente, um vereador cedeu um trailer para abrigar a biblioteca na feira. Embora reconhecido e saudado por onde passa, Léo do Peixe garante que não tem pretensões políticas: "Já me ofereceram legenda três vezes. Tenho medo de ficar sem-vergonha". Sua paixão são os livros e os peixes. "Você acha que são só as Sheilas?", pergunta, agarrado a um surubim de
O peixe de couro, aspecto pré-histórico e carne suculenta, vive no fundo dos rios e é um dos ícones da cidade. A antiga zona de meretrício, um casario velho e abandonado diante do São Francisco, era conhecida como Cabeça de Surubim: "Na minha infância, vinha prostituta do Brasil inteiro", diz o pescador.
Meses difíceis
Durante a piracema (desova dos peixes, entre novembro e fevereiro), a pesca é proibida. Muitos pescadores passam dificuldades, apesar do salário-defeso (equivalente a um salário mínimo) garantido por quatro meses por ano pelo Estado, e continuam a pescar, contra a lei, com suas tarrafas. São meses difíceis para Léo do Peixe. "Hoje, tem mais pescador do que peixe", diz. Obrigado a limitar as vendas ao estoque de congelados, ele tenta aproveitar a piracema para se dedicar aos livros.
Os leitores agradecidos parecem confirmar o lema do militante da leitura: "Não existe cultura inútil". Entre os 45 cadastrados na feira do último domingo, Jaquelane Reis Aguiar, 22, voltou para devolver a "Pedagogia do Oprimido", de Paulo Freire, e levar um novo livro. Escolheu "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen: "Não conheço essa escritora, mas é um tema atual, né? Quem sabe não pode servir para alguma coisa?".
Metais no rio provocam morte de peixes
Entre outubro de 2004 e setembro de 2005, cerca de 25 toneladas de peixes morreram no alto São Francisco, entre Três Marias e Pirapora, segundo a Fepesca (Federação dos Pescadores Profissionais de Mi- nas Gerais).
"Surubim é um peixe ignorante. Sempre desceu peixe morto. Por isso, não levamos logo
A Feam, vinculada à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, detectou a presença de metais pesados (zinco, em especial) no leito do rio e nas vísceras dos peixes mortos, sobretudo os de águas profundas, como o surubim.
No relatório que a fundação elaborou em
A Votorantim é a única empresa a trabalhar com zinco na região, com uma capacidade de produção anual de 180 mil toneladas. O relatório da Feam indica medidas a ser adotadas pela companhia (como "a remoção de todo o passivo ambiental de sua responsabilidade, para fins de restauração efetiva do equilíbrio do ecossistema") e recomenda o embargo da unidade de Três Marias caso isso não seja cumprido.
A Votorantim contesta o relatório. "Entramos com um pedido de revisão. Temos informações de outras instituições que ainda não chegaram a nenhuma conclusão. Nossas operações estão dentro dos padrões exigidos pela legislação", diz Ricardo Barbosa, gerente de meio ambiente da empresa. "Não atribuímos a mortandade dos peixes ao zinco." Então, qual seria a causa? "É o que precisamos descobrir", diz, citando a presença de esgotos e agrotóxicos.
A Votorantim Metais acaba de obter a renovação de sua licença, sob a condição de executar 25 ações de reparação ambiental. "A empresa está investindo na solução dos seus problemas. Os passivos estão sendo resolvidos", diz Barbosa, reconhecendo problemas "no passado".
Se "Grande Sertão: Veredas" fosse narrado hoje, é provável que Riobaldo e Diadorim não se encontrassem pela primeira vez no rio São Francisco, quando ainda eram crianças, mas num centro correcional de menores, vigiados 24 horas por dia. "Pirapora era até muito recentemente o sexto município mais violento do Estado de Minas", diz Dalva Antonia
Com 58 funcionários e capacidade para 20 internos (hoje, são dez, entre 15 e 16 anos, acomodados em celas de quatro cada uma), o Cesap é um caixote murado de cimento e arame farpado, construído a poucos quilômetros da cidade, isolado na estrada para Montes Claros.
O projeto é resultado de uma parceria entre o Estado, o município e empresários locais, todos assustados com a taxa de criminalidade da região: "Todo mundo quer saber por que eles cometem o ato infracional", diz a diretora.
Entre os internos, há quem cometeu homicídio. Alguns passaram pela cadeia pública. A idéia do centro é tentar reinserir o menor na sociedade. Além do banho de sol diário de uma hora, os adolescentes freqüentam aulas de matemática, português e inglês, cursos profissionalizantes e oficinas.
Léo do Peixe leva os livros e revistas de bicicleta. A maioria dos meninos gosta de assuntos que lhes dizem respeito diretamente, como sexo e drogas. "A gente tem que selecionar as leituras", ressalva Dalva Galdino. "Tem um que adora poesia", diz o pescador.
As situações familiares são dramáticas. "Tem menino de 15 anos que já é pai, com filho de 8 meses que ele nunca viu. E tem pai que não consegue vir visitar o filho preso. No início, ainda permitíamos que levassem livros para as celas, até que um adolescente tentou passar uma coisa para outro, dentro da Bíblia. A gente percebeu e retirou os livros. Ele mandava o outro ler um determinado salmo. Era um recado", diz a diretora. "Outro dia, um menino gritou para mim no meio da rua. Era um deles, que tinha sido solto", diz Léo do Peixe, sem disfarçar a felicidade.
Fonte: www.blogdogaleno.com.br (17/06/2012 - 3h25)
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