domingo, 15 de junho de 2014

‘Congestionamento’ explica esquecimento das ‘ponta da língua’

NEUROLOGIA



Acúmulo nas redes de comunicação cerebrais provoca tropeços na hora de falar

Nova York – Pesquisador holandês investigou os processos neurológicos que ocorrem quando uma palavra conhecida, o esquecimento da ‘ponta da língua’. Willem Levelt, diretor do instituto Max Planck de Psicolinguística em Mijmegen, Holanda, descobriu que os tropeços verbais resultam do ‘congestionamento’ nas redes cerebrais.

Levelt baseou o estudo na teoria de que o cérebro humano contém nódulos distintos para processar o pensamento em linguagem. A anatomia exata desses nódulos não é conhecida, mas sua existência pode ser demonstrada experimentalmente. Segundo o cientista, eles são redes de neurônios interconectadas, que têm tempo determinado para cada tarefa.

O pesquisador dividiu os três nódulos em léxico, lema e lexema. Essencialmente, o nódulo léxico  lida com pensamentos, o lema com a sintaxe e o lexema administra os sons. Ao falar, o primeiro nódulo a ser ativado é o léxico. Uma vez que uma mensagem é pensada, é preciso captirá-la num conceito léxico. “Para fazer isso, mergulhamos em nosso vocabulário armazenado – milhares de palavras decodificadas em neurônios.” Segundo o cientista, as pessoas podem produzir duas ou três palavras por segundo contendo de 10 a 15 sons ou sílabas.

Palavras isoladas e conceitos são armazenados em grande redes interativas, os nódulos, espalhadas pelo cérebro  de modo diferente em cada pessoa. Quando o nódulo léxico para uma palavra como lhama, por exemplo, é ativado, outros nódulos para palavras semelhantes também o são. Isso inclui bichos parecidos à lhama, como carneiros e cabras. “Nesse ponto, ainda não se tem a apalavra lhama, mas foi ativada uma ampla rede de informação”, explicou Levelt.

O estágio seguinte é processar o segundo nódulo, a rede lema. Nessa fase, o cérebro seleciona gênero, verbo e processos gramaticais. A última etapara é tornar um conceito léxico numa palavra falada. “Acessar o lexema é mais difícil do que se pensa”, disse Levelt. A mente tem de encontrar o som correto e relacioná-lo à sintaxe.

É nesse ponto que tudo pode falhar. O motivo pelo qual a palavra que está “na ponta da língua” não é formada é, segundo Levelt, provavelmente porque o nódulo léxico não é suficientemente ativado para que se dê a segunda fase do processo, onde estão armazenadas as sílabas. Os congestionamentos nas redes impedem que isso ocorra imediatamente, daí a dificuldade em achar a palavra certa, naquele momento.


Estadão, 27/09/1995