NEUROLOGIA
Acúmulo nas redes de
comunicação cerebrais provoca tropeços na hora de falar
Nova York – Pesquisador holandês investigou os processos
neurológicos que ocorrem quando uma palavra conhecida, o esquecimento da ‘ponta
da língua’. Willem Levelt, diretor do instituto Max Planck de Psicolinguística em
Mijmegen, Holanda, descobriu que os tropeços verbais resultam do ‘congestionamento’
nas redes cerebrais.
Levelt baseou o estudo na teoria de que o cérebro humano
contém nódulos distintos para processar o pensamento em linguagem. A anatomia
exata desses nódulos não é conhecida, mas sua existência pode ser demonstrada
experimentalmente. Segundo o cientista, eles são redes de neurônios interconectadas,
que têm tempo determinado para cada tarefa.
O pesquisador dividiu os três nódulos em léxico, lema e
lexema. Essencialmente, o nódulo léxico
lida com pensamentos, o lema com a sintaxe e o lexema administra os
sons. Ao falar, o primeiro nódulo a ser ativado é o léxico. Uma vez que uma
mensagem é pensada, é preciso captirá-la num conceito léxico. “Para fazer isso,
mergulhamos em nosso vocabulário armazenado – milhares de palavras
decodificadas em neurônios.” Segundo o cientista, as pessoas podem produzir
duas ou três palavras por segundo contendo de 10 a 15 sons ou sílabas.
Palavras isoladas e conceitos são armazenados em grande
redes interativas, os nódulos, espalhadas pelo cérebro de modo diferente em cada pessoa. Quando o
nódulo léxico para uma palavra como lhama, por exemplo, é ativado, outros nódulos
para palavras semelhantes também o são. Isso inclui bichos parecidos à lhama,
como carneiros e cabras. “Nesse ponto, ainda não se tem a apalavra lhama, mas
foi ativada uma ampla rede de informação”, explicou Levelt.
O estágio seguinte é processar o segundo nódulo, a rede
lema. Nessa fase, o cérebro seleciona gênero, verbo e processos gramaticais. A última
etapara é tornar um conceito léxico numa palavra falada. “Acessar o lexema é
mais difícil do que se pensa”, disse Levelt. A mente tem de encontrar o som
correto e relacioná-lo à sintaxe.
É nesse ponto que tudo pode falhar. O motivo pelo qual a
palavra que está “na ponta da língua” não é formada é, segundo Levelt,
provavelmente porque o nódulo léxico não é suficientemente ativado para que se
dê a segunda fase do processo, onde estão armazenadas as sílabas. Os
congestionamentos nas redes impedem que isso ocorra imediatamente, daí a
dificuldade em achar a palavra certa, naquele momento.
Estadão, 27/09/1995