quinta-feira, 22 de março de 2012

O Olhar da Incerteza



Este texto é a transcrição da introdução do primeiro capítulo do livro “O Olhar da Incerteza” de Israel Belo de Azevedo, aonde ele faz uma crítica da cultura contemporânea. Editado pela “Prazer de Ler”. 1998. Logo após a ficha técnica, encontramos um dos pensamentos de Marshall Berman que sintetiza a obra convenientemente:
“Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas ao redor – mas ao mesmo tempo ameaça dstruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos.”

Convicções descartáveis, estilo zapping, começam num talk show e terminam num shopping. Podem preencher necessidades, até encher vidas, mas não chegam a transbordar para compor uma civilização. – Alberto Dines, 1997.

Se o mundo estivesse aos seus pés e, do alto de um monte, pudesse vê-lo, como você o descreveria?

O mundo não está aos pés de ninguém, por amai salto que seja o morro, mas cada um de nós o descreve.
Desde que o homem decretou que era moderno, lá pelo século 18, seu olhar não para de girar.

O chamado mundo moderno não nasceu no dia em que nascemos. Ele estava ai antes que chegássemos. E devera estar ai, quando não estivermos mais.

O presente é o passado que sobreviveu.

O presente é o passado que nos foi dado conhecer.

O presente está na vida cotidiana: na padaria da esquina, na praça onde os corpos dos namorados se tocam, na fila do banco ou no ponto de ônibus, na redação dos jornais, nos programas ao vivo de televisão, no discurso do presidente da república.

O quotidiano de hoje nem sempre foi assim.

Antes que o vendaval da secularização mudasse, a partir do século 16, a face das águas, a vida de uma pessoa tinha todos os seus momentos marcados, como um maestro pontua o ritmo de uma orquestra, pela religião dominante. O campanário do templo católico, localizado no centro geográfico e psicológico da comunidade, sinalizava a hora de acordar, a hora de comer, a hora de rezar e a hora de dormir. A pessoa só passava efetivamente a existir quando recebia um nome na pia batismal. E ela só tinha um lugar para ser enterrada: o cemitério da igreja.

Hoje as coisas não são assim, embora o vendaval europeu chegasse na forma de uma brisa.

No entanto, o homem comum pouco sabe sobre secularização, humanismo, renascentismo e outros movimentos que sacudiram a Europa e marcaram o  do mundo moderno. Mas ele sabe, por experiência no dia-a-dia, que nascer e morrer são momentos seculares e que o cronograma de sua vida diária nada tem a ver com o sino, que ele sequer ouve perdido no meio dos sons diversos.

Em outras palavras, o presente não se explica a si mesmo, nem  o passado explica todo o presente.De qualquer modo, conhecer o passado é conhecer o presente. (Não conhecer o passado é se tornar vítima do presente – nota de quem fez a transcrição).

Olhar para o mundo moderno exige olhar o seu nascimento, na morte da chamada Idade Média. As características da modernidade vêm se desenvolvendo desde então.