terça-feira, 2 de agosto de 2016

Cuidando dos livros


Por Givanilda Maria - Bibliotecária CRB 8/9619

A conservação do acervo depende de vários fatores, como um ambiente arejado, bem iluminado, e com uma boa higiene diária. Porém, com todas essas ações, o acervo pode sofrer com a ação do tempo, as transformações naturais do papel, do manuseio, e, é claro, com as pragas que pode se proliferar em meio aos livros.

Para cada tipo de dano no livro, também existe uma ação para ser tomada, claro que para isso, é preciso detectar o problema que afeta a determinada obra. Após o conhecimento do problema que está diminuindo a vida do livro, a decisão na cura será eficaz.

A higienização, sempre deve ser feita começando pelas prateleiras de cima, com a ajuda de um aspirador de pó, um paninho. A limpeza do chão deve ser feita com um aspirador de pó, para que a poeira não se espalhe para os livros, pode ser utilizado também um pano úmido.

O bibliotecário deve adotar algumas medidas, para manter seu acervo livre desse mal. Uma delas é adotar uma política de limpeza sistemática do acervo. Examinar as novas aquisições, que serão incorporadas, sejam elas advindas de compra, doações ou permutas.

A higienização do acervo é uma operação simples, mas que passa despercebida no dia a dia da biblioteca.



Nas estantes os livros ficam
(até se dispersarem ou desfazerem)
enquanto tudo
passa. O pó acumula-se
e depois de limpo
torna a acumular-se
no cimo das lombadas.
Quando a cidade está suja
(obras, carros, poeiras)
o pó é mais negro e por vezes
espesso. Os livros ficam,
valem mais que tudo,
mas apesar do amor
(amor das coisas mudas
que sussurram)
e do cuidado doméstico
fica sempre, embaixo,
do lado oposto à lombada,
uma pequena marca negra
do pó nas páginas.
A marca faz parte dos livros.
Estão marcados. Nós também.

Pedro Mexia, in "Duplo Império"

Menos brasileiros

RUY CASTRO

11/01/2016 02h00

RIO DE JANEIRO - Oito sebos de livros fecharam em 2015 num importante trecho do centro do Rio, adjacente à Saara -esta, o velho e querido distrito comercial de árabes e judeus entre a rua Uruguaiana e o Campo de Santana, abaixo da rua Buenos Aires. Os sebos ficavam da Buenos Aires para cima, em ruas abertas há 400 anos e encharcadas de história: a Luiz de Camões, ex da Lampadosa, palco do calvário de Tiradentes; o largo de São Francisco, berço da engenharia brasileira; a dos Andradas, antiga rua do Fogo; e a da Conceição, a travessa das Belas Artes, o beco do Tesouro.

No século 19, esses quarteirões foram o território de José de Alencar, Manuel Antonio de Almeida, Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Olavo Bilac, Raul Pompeia, Euclides da Cunha. Os escritórios, cafés e livrarias em que eles circulavam estão em seus escritos e nos de seus biógrafos. Com o tempo, a região perdeu a supremacia para novas ruas e avenidas. Restou-lhe o comércio popular, em que os sebos sempre tiveram importante papel. À sua maneira, eles mantêm viva a cultura -porque é a eles que os estudantes e os aposentados, sempre duros, recorrem para o seu prazer de ler.

Os sebos são um comércio frágil e humilde -você nunca verá um deles num shopping. E nem precisam: seu habitat natural são as ruas antigas e decadentes, para onde ninguém quer ir. Ou não queria.

Há algum tempo, os chineses descobriram aquela região. Fazem propostas de aluguel ou compra dos imóveis impossíveis de ser superadas pelos pequenos comerciantes. Diante da crise, os proprietários não hesitam: despejam o seu inquilino de décadas e entregam o imóvel a pessoas que nunca viram, dedicadas a saturar a praça com porcarias de plástico made in China.

É o mercado, e talvez não haja nada a fazer. Mas, a cada sebo que fecha, o Brasil fica menos brasileiro.

ruy castro




É escritor e jornalista. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas,

quartas, sextas e sábados.